Entre setembro e março de 2020 estarei em Londres fazendo um fellowship e vamos escrever no estilo BRASIL X INGLATERRA. Informações daqui e do Brasil já que a Dra Raquel vai assumir as pacientes dela e as minhas e a Clínica continua a todo o vapor.
Chamamos de fellowship o período de treinamento que pode ser realizado após a formação em Medicina ou após a residência médica que é o meu caso. Para quem não sabe ainda, eu fiz residência em Ginecologia e Obstetrícia e após fiz Uroginecologia e, então, resolvi voltar à Floripa. Os cursos e estudos são ineterruptos e foi num desses cursos na USP que recebi o convite para uma temporada aqui em Londres.
Mas vocês acham que foi fácil? Sabendo que a Medicina é uma profissão essencial para a sociedade e que está fortemente ligada ao compromisso pessoal, dedicação e desejo de doação ao próximo, os caminhos são árduos, desafiadores, extremamente competitivos e apenas ser bom tecnicamente não faz daquele médico o melhor nem o mais completo.
É necessário ir além, buscar mais, ousar mais, ser tecnicamente muito bom e ter uma brilhante relação com o paciente. Não é fácil. Perdi as contas de quantas noites, almoços de família, vinhos no happy hour, viagens, saídas com os amigos, tempo com meu marido falhei ou faltei. A vida fica completamente imprevisível, inconstante e por que não, difícil?
Tenho certeza que a Medicina é um dom, nem todos aguentam o tranco. Mas, quem aguenta é muito bem remunerado pelo sorriso, olhar, palavras e satisfação dos seus pacientes. Salvar vidas está entre as mais desafiadoras das nossas atribuições e muitas vezes o diagnóstico a torna impossível. Porém, acalentar, abraçar, orientar, estar e ser presente e doar o nosso melhor está entre os nossos deveres. É paixão, daquelas avassaladoras, que move o dia a dia e as noites em claro e os casos nos quais a saída parece impossível. A Medicina que te escolhe.
Nas horas vagas tem que encontrar espaço para o artigo que acabou de ser publicado e para revisar o tratamento daquela condição rara que apareceu no consultório e você já não lembra mais a melhor conduta, pausa para responder o whatsapp e conferir o e-mail, tornou-se impossível não tê-los como aliados apesar da proibição de consultas não presenciais pelo Conselho Federal de Medicina. E, se sobrar tempo, hora de programar o congresso para daqui a 9 meses, afinal, atender gestantes é o mesmo que programar uma agenda para daqui 41 semanas e correr o risco de começar o pré natal daquela paciente que você adora, da sua super amiga, do segundo bebê daquela família que você já fez o primeiro parto bem quando você programou suas férias ou aquele congresso imperdível. Perdi as contas de quantas vezes me programei e não fui ou quantas chorei quando a paciente me ligou em trabalho de parto ou porque a bolsa rompeu e eu estava no compromisso super planejado. Sorte a minha e porque não das pacientes que eu trabalho com a minha mãe e, azar o nosso que nunca mais viajamos juntas desde que eu me formei.
Foi assim, com muita dificuldade que programamos esses 6 meses longe do Brasil, uma nova cultura, uma nova língua, uma desestabilizada na minha zona de conforto em prol de um aprimoramento único e uma experiência imensurável. Estarei ao lado de um dos maiores nomes da ginecologia e uroginecologia mundial e tenho certeza que será um upgrade para Florianópolis o meu retorno.
Também chorei nos meus últimos dias de consultório, recebi um carinho e um vai em frente de tanta gente que me senti igualmente especial e prometo além de todo o aprendizado levar o nome do Brasil em trabalhos científicos da mais alta qualidade.
Seguimos trazendo muitas informações para vocês nesses próximos 6 meses de Floripa ou da Terra da Rainha.