Há quem diga que o Outubro Rosa é apenas marketing. Pois bem, preferimos pensar que a mensagem de auto cuidado e de amor próprio não deve e não pode ser esquecida.
Olhar para cada ação de sucesso e cada vida mudada por causa de um diagnóstico precoce pode ser uma virtude de quem viveu isso na pele ( ou quase isso).
Insistir em informação de qualidade, buscar prevenção e não apenas tratamento e ter empatia por tantas pessoas que suportam as dores do câncer de mama é, na nossa opinião, a maior mensagem do outubro rosa. Não precisa ser em outubro e nem necessariamente deve, mas o importante é mesmo a lembrança do cuidado e da prevenção para as doenças previníveis, não apenas o câncer de mama.
Adote hábitos saudáveis, mude seu estilo de vida, visite o médico regularmente, cuide de você!
Abaixo segue meu relato sobre esse mês tão importante e que mudou a minha vida:
O movimento começou nos Estados Unidos já em 1990 com ações isoladas em alguns Estados e posteriormente com a aprovação do Congresso Americano o mês de outubro se tornou o mês nacional americano de prevenção do câncer de mama.
O laço cor de rosa foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, distribuído e utilizado na primeira Corrida pela Cura datada desse ano de 1990 em Nova Iorque e que hoje ainda permanece como um dos grandes eventos do mês cor de rosa.
Foi em 1997 que algumas cidades dos Estados Unidos começaram efetivamente a fomentar ações voltadas a prevenção do câncer de mama e ele então foi denominado – outubro rosa.
De lá para cá crescem o número de adeptos, de países, de eventos em prol único e exclusivamente da prevenção.
Se precisa de um mês? Para você se cuidar não, mas para que a sociedade seja mobilizada, orientada e repense em suas atitudes e sua saúde esse mês pode mudar o rumo de muitas vidas.
Eu já vivi em casa as dificuldades desse diagnóstico, há quase 9 anos minha mãe teve um câncer de mama, logo a minha mãe que é ginecologista e que para uma filha é sempre um soldado vestindo uma armadura e inatingível.
O mundo desabou, eu não morava em Florianópolis na época, estava recém começando a residência de Ginecologia e Obstetrícia e já dizia em bom tom que odiava Mastologia ( a especialidade médica que se dedica ao estudo das mamas). Pensei em largar tudo, vir embora ficar do lado da minha mãe.
É engraçado que as respostas vêm da onde menos esperamos. Lembro do dia do diagnóstico, eu estava dentro do carro dirigindo, era greve dos residentes nacional e eu estava em Floripa. Passava um pouco do horário do almoço que eu não tinha conseguido comer direito, ruminando de ansiedade. Ela mesma me ligou e disse filha é mesmo um tumor, um carcinoma ductal. Parei o carro quase no meio da Beira Mar, em segundos percebi que não poderia ficar ali e fui até o trapiche. Sai do carro, sentei-me na grama, chorei e me perguntei inúmeras vezes – por que com ela Senhor? Por que com a nossa família? A resposta nunca veio e nunca virá. Porque sim. Independente do estilo de vida que você adota você está sujeito a enfrentar essa doença bendita.
Tentei me recompor, entrei no carro e fui em direção a Universidade já que a minha mãe estava dando aula. Subi as escadas cabisbaixa e logo encontrei a Dra Adriana, mastologista, também professora que estava dando aula naquele mesmo dia. Ela me no fundo dos olhos e disse – Lu, agora é tratar e tudo ficará bem.
Relembrando isso hoje eu confesso que cada palavra e cada pessoa exerceu papel fundamental na nossa vitória de hoje. Mas, a médica ou os médicos ( cirurgião plástico, oncologista, radioterapeuta) foram de extrema importância para que acreditássemos num final feliz. Eu sempre brinco que a ignorância é uma benção nesses casos porque você fica tentando achar porcentagem em cada estudo que lê ou paciente que atende e fica quase louco. Eu confesso também que mudei muito meu jeito de encarar as dificuldades e dores de cada paciente, minha capacidade de me colocar no lugar do outro e minha visão sobre o acompanhante dos pacientes. Tudo sempre tem o lado bom mesmo quando parece que você não enxerga nada pela frente.
Assim, nós enfrentamos a cirurgia, em menos de uma semana do diagnóstico. Entrei no centro cirúrgico e assim que minha mãe foi anestesiada eu saí, chorei até o final da cirurgia e retornei como se nada tivesse acontecido ao final. A gente tenta se mostrar forte diante do paciente fragilizado.
Passamos os próximos meses entre quimioterapia e radioterapia. Dias tristes, alguns difíceis, pouquíssimos dias de desanimo da minha mãe, vida praticamente normal e muitos dias felizes. Ela me ensinou a cada dia que o sorriso, a confiança e a fé são armas poderosas para viver dia após dia. Mas confesso que me peguei chorando madrugadas inteiras por medo.
O tempo foi passando, comemoramos o fim do tratamento num carnaval daqueles para ficar na memória.
Seguimos fazendo os nossos exames de rotina anualmente, cada ano é um chororô com os resultados normais. E sim, nós fazemos porque acabei entrando para o grupo de risco e preciso fazer meus exames também, além de todos os outros de rotina.
Hoje, o outubro rosa para mim tem um sabor de vitória. Eu tenho minha mãe saudável, linda e feliz dividindo meus dias entre o consultório e nossa vida fora da Medicina. E não tem coisa melhor. O diagnóstico precoce ainda é a maior chance de cura dentro de um tratamento.
Eu posso garantir que a tempestade quase sempre passa, o sol retorna e nasce cada dia mais lindo. Porque lá atrás percebemos que o que vale é trazer sentido a vida orientando e iluminando outras vidas e é por isso que a campanha adquire adeptos a cada dia, porque todos queremos ser sol para alguém.