O romântico mundo da maternidade desaba no pós-nascimento imediato. Todas as certezas, as opiniões que se construíram, as anotações do curso de gestantes e da internet, os livros e até aquele – eu juro que não vou fazer, caem por terra.
Pode até ter um componente hormonal, mas, existe um mundo de cobranças em cima da nova mãe e um tanto de expectativas em torno da maternidade ideal.
A fase puerperal é conhecida pela ocorrência de ajustes psicológicos, de recuperação e adaptação às transformações sofridas pelo organismo feminino no seu estado gravídico.
Junto a estes ajustes, uma nova rotina, novas preocupações e a própria recuperação do corpo pós nascimento tornam a mulher muito mais vulnerável.
As mudanças conscientes e as inesperadas podem contribuir para o desenvolvimento da depressão pós-parto. Se o transtorno depressivo já é julgado e cheio de preconceitos, imaginem a depressão pós-parto, enquanto a mãe deveria estar, apenas, feliz.
Triste engano. Há grandes transformações não só na saúde da mulher como uma soma de experiências alheias, as vezes polêmicas, que irão alterar o psiquismo e o papel sócio familiar da mulher. Me arrisco a dizer que, provavelmente em nenhuma outra fase da vida da mulher, inúmeras modificações e alterações no corpo humano ocorram em tão curto espaço de tempo.
Os dados brasileiros são pouco alimentados mas estima-se que 10 a 20% das puérperas desenvolvam depressão pós-parto nos primeiros meses após o nascimento dos seus filhos. As consequências graves dessa condição são trágicas não só para a mulher, mas para todo o sistema familiar.
A etiologia da depressão pós-parto ainda não é totalmente conhecida e inúmeros fatores além dos já citados podem influenciar como os hereditários, obstétricos relacionados a gestação atual ou anterior, a saúde da mulher antes e durante a gestação e, principalmente, a história de depressão anterior a gravidez.
Os sintomas fundamentais são os mesmos da depressão fora do período puerperal: humor deprimido, perda do interesse e fatigabilidade que juntamente com outros sintomas acessórios como, por exemplo, atenção e concentração reduzidas, sono perturbado, apetite diminuído, auto-estima reduzida, pessimismo no futuro fazem o diagnóstico.
Uma dificuldade diagnóstica importante pela mistura dos sintomas depressivos e o momento da mulher na fase pós-gestacional somada ao tabu do tratamento frente a amamentação acaba subdiagnosticando e consequente subtratando essas mulheres.
É sabido que a depressão pós-parto pode, além de afetar a vida da mulher e do casal, ter implicações negativas na interação mãe-bebê e afetar o desenvolvimento da criança.
Cabe a nós como sociedade, quebrar os estigmas envolvidos com a maternidade e permitir que a mulher se desenvolva como mãe dentro dos preceitos que julga fundamental e, sim, olharmos as puérperas não apenas como mães, mas, também, como mulheres no sentido literal da palavra.